quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O que faltou na boate kiss, veja 8 essenciais itens

Fachada da Boate Kiss, onde 231 pessoas morreram e centenas ficaram feridas por causa de incêndio, na cidade de Santa Maria
Fachada da boate Kiss: a antítese de uma boate segura, em todos os sentidos


São Paulo – Muita coisa ainda está em aberto no incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS), mas sabe-se que o que poderia dar errado para os presentes, deu. Uma série sucessiva de erros culminou na morte de 235 pessoas. Observada as mais estritas regras de segurança contra incêndios, no entanto, toda a tragédia teria sido evitada.

Para imaginar como seria a boate ideal e completamente segura, EXAME.com conversou com especialistas sobre normas de segurança que, seguidas à risca, são garantia de que episódios como o da cidade gaúcha não ocorram mais e, mesmo que aconteçam, não façam nenhuma vítima.
Muito do relatado abaixo não é lei - a legislação para incêndios é decidida pelos estados e municípios, variando em cada local - mas se trata de procedimentos comprovadamente efetivos, mesmo que não obrigatórios em todas as unidades da federação.

1) Sinalização de emergência

Como era na boate Kiss: não havia nenhuma, segundo testemunhas, que ficaram no escuro com o fim da energia
Como seria a boate ideal: há iluminação fosforescente ou com bateria própria tanto no chão quanto nas paredes para orientar a saída das pessoas
A boate que almeja evitar vítimas em caso de incêndio precisa colocar sinalização das saídas de emergência tanto na parede quanto no chão. É que a fumaça se acumula no teto. “Uma pessoa sob incêndio vai olhar para baixo e vai se agachar para sair”, afirma o especialista em segurança contra incêndio e professor da PUC-RS e da UFRGS, Telmo Brentano.
Hoje, é possível instalar indicadores nas paredes que contam com bateria própria e se mantêm acesos mesmo quando acaba a luz. Materiais fosforescentes também funcionam para orientar as pessoas a sair o mais rápido de um local em chamas, o que pode ser crucial para salvar vidas.
É importante que estejam no chão, mas também nas laterais em altura que possa ser vista mesmo com um grande aglomerado de pessoas.


2) Exaustores de fumaça

Como era na boate Kiss: não havia
Como seria a boate ideal: tem vários exaustores no teto ou na parede (já rente ao teto)
Boates são ambientes escuros e, não raros, sem muita ventilação. Mas a morte por inalação em um incêndio só ocorre se a fumaça se acumular no local. Exaustores instalados em vários cantos garantem que isso não aconteça, ou que a maior parte dela se dissipe, e são essenciais para que uma casa noturna seja completamente segura.
Exaustores são diferentes de janelas (embora nem isso houvesse na boate Kiss), que, mais baixas nas paredes, deixam a fumaça se acumular.

3) Saídas de emergência

Como era na boate Kiss: não tinha saída de emergência
Como seria a boate ideal: tem, no mínimo, uma saída de emergência. De preferência, duas, ou mais, dependendo do tamanho e divisão, como a Kiss
Engenheiros trabalham com tempo médio de esvaziar um ambiente com materiais inflamáveis em um prazo de 3 a 5 minutos. “A geração de fumaça tóxica acontece em questão de 2 a 3 minutos”, explica Telmo Brentano, da UFRGS.

Ou seja, a boate deve ter a estrutura para ser esvaziada neste prazo, contando assim com um determinado número de portas, distribuídas de maneira otimizada e com tamanho específico. Locais grandes e divididos devem ter várias saídas de emergência. No caso da Kiss, seriam no mínimo duas.

O cálculo é complexo, mas de maneira simplificada, obedece a alguns critérios:
- As saídas devem estar em pontas opostas, o que suaviza o efeito manada, que representa perigo para a vida dos presentes e garante saídas alternativas se o incêndio se concentrar em uma porta
- As saídas devem ter barras anti-pânico
- Mais portas menores são melhores do que poucas portas grandes, segundo o especialista em gerenciamento de risco de planos de emergência da Coppe-UFRJ, Moacyr Duarte.


4) Revestimento

Como era na boate Kiss: material altamente inflamável
Como seria a boate ideal: tem material anti-inflamável, que recebe aditivos e é mais caro
Se a suspeita da polícia estiver correta e a tragédia de Santa Maria tiver começado com uma faísca do “sputnik” utilizado pela banda, tudo poderia ter sido evitado caso o revestimento da Kiss tivesse sido anti-inflamável, que contém aditivos na espuma. Simulações mostram a velocidade com que o fogo se propaga em matérias como o da boate de Santa Maria.
O investimento nesses casos, claro, é mais caro, mas uma boate realmente segura em qualquer lugar do mundo não abre mão desse item que, mesmo quando queimado – o que é difícil - “produz pouquíssima fumaça”, afirma o engenheiro civil Telmo Brentano.

5) Sprinklers

Como era na boate Kiss: até onde se sabe, não havia
Como seria a boate ideal: teria vários separados por alguns metros, cobrindo toda a área da boate
Sprinklers, os chuveirinhos de água que ficam no teto acionados automaticamente em caso de incêndio, não fazem a fumaça se dissipar, mas podem ser extremamente eficazes para terminar com incêndios, já que permitem grande vazão de água, cobrindo todo o ambiente.
“Quanto maior o risco (de incêndio do local), o sprinkler deve ficar mais próximo (um do outro), como três metros, com vazão de 500 litros por minuto”, explica Brentano.

6) Alarme de incêndio

Como era na boate Kiss: não havia
Como seria a boate ideal: tem
“A maneira de avisar de um incêndio é tocar o alarme, e não sair gritando fogo. Quem dispara não é alguem que viu, mas um sistema. E planejar isso é de baixa complexidade”, diz Moacyr Duarte, da UFRJ.
As vantagens são óbvias. Se rapidez nesses casos é fundamental, alertar os presentes de maneira oficial faz com que reajam imediatamente, servindo de alerta inclusive para as pessoas no recinto preparadas para atuar contra o fogo.
Sabe-se que, na Kiss, muitos presentes demoraram a perceber o perigo que corriam, o que pode ter contribuído para o número de mortes.


7) Extintores e hidrantes

Extintor de incêndio
Extintor de incêndio: o da boate Kiss não funcionou e a polícia fala até em falsificação. Casas noturnas precisam trocar carga a cada ano e revisar casco a cada 5 anos

Como era na boate Kiss: havia extintores (um não funcionou), mas não há relatos de hidrantes
Como seria a boate ideal: tem os dois, dispostos de maneira a cobrir toda a área da casa noturna, e revisados constantemente
O projeto de cada casa noturna pode determinar exatamente o número de extintores – que servem para apagar pequenos focos – e hidrantes necessários, estes últimos capazes de uma ação mais prolongada.
Segundo o especialista Telmo Brentano, é preciso pensar em extintores distantes cerca de 20 metros um do outro, em média. Junto com os hidrantes, que têm raio de cobertura de 30 metros, eles devem cobrir todo o ambiente da casa noturna.
O importante é que estejam sempre em perfeita ordem, já que nunca se sabe quando serão necessários. “Extintor tem prazo de validade de um ano para carga interna. E de 5 em 5 anos é preciso fazer o teste hidrostático (checar se vaso está íntegro)”, observa Moacyr Duarte, da Coppe-UFRJ.
Estes prazos, claro, são obedecidos por qualquer boate que se pretenda perfeitamente segura.

8) Treinamento dos seguranças

Como era na boate Kiss: seguranças afirmaram que nunca tiveram treinamento contra incêndios e outros procedimentos de segurança
Como seria a boate ideal: além de cuidar do patrimônio, eles estão prontos para orientar e cuidar da segurança dos presentes em casos de emergência
Shows, bares e boates contam com seguranças na maioria dos casos. Estes, no entanto, estão prontos e orientados normalmente apenas para cuidar do patrimônio do estabelecimento, não da segurança dos frequentadores.
Para Telmo Brentano, o treinamento focado na prevenção de incêndios deveria ser obrigatório.
“Eles vão saber quais ações devem ser tomadas imediatamente, como operar os equipamentos, como proceder e o plano de emergência do ambiente. Se o cara é treinado, ele não vai causar escândalo. Caso contrário, pode ser o primeiro a sair do ambiente”, defende o engenheiro especialista em segurança de incêndios.

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